Quando Paulo Kauim era adolescente, sua Taguatinga (DF) estava mais próxima da Paris de Rimbaud e Mallarmé do que da poesia marginal rodada nos mimeógrafos do Plano Piloto. Pernambucano filho de repentista sindicalista, o garoto conhecia bem os poetas malditos franceses e mal a vanguarda brasileira. Até que um dia descobriu a poesia concreta de Haroldo e Augusto de Campos. "Fiquei sem fala. Sem escrever. O encontro com a poesia concreta foi traumático." Kauim resolveu então reler João Cabral de Melo Neto. "Para retomar o fio", diz. Demorô começou a tomar forma na época do trauma e levou duas décadas para chegar ao formato que o poeta de 46 anos acaba de lançar.
O livro é compilação de poemas escritos entre os anos 1980 e 2008. "Fui muito rigoroso na seleção porque queria que os poemas tivessem uma fala com os dias de hoje, não queria nada datado. Optei por uma polifonia", conta. "Criei uma estrutura em que a pessoa pode começar a ler em qualquer página, é uma leitura flutuante." Demorô também pode ser lido em blocos. O autor agrupou os poemas em módulos temáticos. Há uma parte dedicada aos haicais escritos nos anos 1980 e outra sobre a cultura negra, série de "africânticos" em que o autor celebra o samba e outras manifestações trazidas pelos escravos africanos. A cultura hip hop e as mazelas sociais brasileiras estão em outro bloco. A diversidade de temas é fruto do diálogo de Kauim com conjunto variado de referências.
Nascido em Timbaúba, na zona da mata pernambucana, o poeta chegou a Brasília em 1972. O pai fugia da perseguição política da ditadura que rendera uma prisão na cidade natal. A família se instalou em Taguatinga, de onde Kauim só saiu em 2002. "Na época, não tinha nada para fazer em Taguatinga, era barro para todo lado. Comecei a me interessar por leitura e ia para a biblioteca devorar os grandes poetas", lembra.
Edições caseiras - Depois do primeiro contato com os malditos franceses, o poeta voltou os olhos para o Plano Piloto e descobriu a poesia marginal brasiliense. Nicolas Behr e Franciso Kaq viraram referências. A turma do mimeógrafo fisgou o menino da satélite. "O convívio com esses poetas foi formando a minha poesia. Poesia é coisa à margem, não faz sucesso, mas acho que ajuda a fazer um mundo menos bárbaro. Faço poesia para isso." Muitos dos versos editados em Demorô não são inéditos. Saíram em livrinhos caseiros como Um centavo, Pelo pelourinho e Carruagem de polícia, mimeografados e montados artesanalmente.
O interesse pelas linguagens populares veio do pai repentista e fez Kauim mergulhar nas misturas. "Nunca acreditei na separação entre o popular e o erudito." Também nunca acreditou no isolamento. Por isso, Demorô é um trabalho coletivo. Tem participação dos artistas plásticos Fernando Carpaneda e Masanori Ohashy, responsáveis por parte do projeto visual do livro, e do escritor Geraldo Lima. "Queria dar um caráter coletivo ao livro porque a gente está vivendo época de individualismo", garante o poeta, que, na década de 1980, embarcou na experiência coletiva ao publicar revistas como Garganta e Ismo, experiências destinadas a divulgar a produção cultural brasiliense. Hoje, o coletivo fica por conta das aulas de arte-educação ministradas em escola de ensino básico da Fundação Educacional do Distrito Federal. "Acredito que por meio da arte é possível ampliar o universo dos alunos de forma crítica."
Serviço
Demorô, de Paulo Kauim
Editora: Thesaurus
Preço médio: R$ 40
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